terça-feira, 22 de dezembro de 2009

Prendimi l'anima























cena do filme Jornada da Alma (The Soul Keeper, 2002)

A tua é somente tua.

A minha é apenas minha, a jornada.

Mas somos anjos de uma asa só,

e só podemos voar de mãos dadas.


Não é por alimento que espera

a alma: é por aquele que traz

o pão e o leite à casa.


Te abri num sonho minhas mãos em água

e a pedra em forma de c.oração flutuava


"Ta'qui: minha alma ruiva"

e disse como quem desafia


Eu me entrego a ti nessa pedra:
você saberá guardá-la.
Um dia.



terça-feira, 28 de julho de 2009

Tardes cariocas


















fim de tarde em Ipanema, photo by Fabiana Motroni

Pois quis a vida
que minha vida
desse uma pausa

umas férias
por justa causa

nesse momento
meu escrever
minha verdade
se submete
à esta cidade

à contemplação
da beleza
da tristeza
da realidade

e me recolho
à função outra
de um poeta
a de catar lirismos
que o mar espalha na areia
e que a brisa traz
pela janela aberta

de aguardar
o que um pôr de sol
em ipanema
pode me fecundar
em poema

o brilho da água
o fogo da areia
a ventania

a alma que
ferve
na noite
e flana
no dia

dessa musa
maldita
naiade
cosmopolita
linha e curva
absurda
mente
bonita
silenciosa
sinfonia

cidade
que nasceu
poesia


terça-feira, 23 de junho de 2009

A poltrona ao lado


















photo by Fabiana Motroni, show do Lô Borges, novembro de 2008

Em nossa vida, em muitos momentos dela, o outro é um ser inventado. Quando ele não é o que pensamos, quando não faz o que esperamos, ele simplesmente não é. Não está lá.

Invisível como a repetição de nossas expectativas, o outro é apenas uma falta. Uma falta de nós mesmos. Mas então aceitamos a solidão como dimensão real do que somos, e nos enxergamos, e a solidão se esvai, por não haver mais razão de existir. E a falta não faz mais falta.

E então a falta é a fala, é a palavra, é o fato, é a flor, e estamos livres para enxergar que existe alguém na poltrona ao lado. O outro. Um outro que nos enxerga. Um outro que nos olha na nossa poltrona e que não quer ver o veludo vermelho, por mais veludo e por mais vermelho que seja, porque está muito mais interessado em ver a gente.

O outro que entende a amplitude de companhia. Que entende a diversidade do amor. E que sabe que a poltrona estará sempre vazia enquanto não quisermos que alguém sente ali, de verdade. Alguém de verdade. Um outro da gente.

Não é o amor a falha. A falha somos nós e o que inventamos sobre o amor. E ele nos olha docemente, e sorri tristemente de nossas dores, sem muito poder fazer, o amor. A não ser esperar que não esperemos nada mais dele. A não ser esperar que esperemos por ele. A não ser esperar que o reconheçamos quando ele chegue, e que o aceitemos como ele é.


sexta-feira, 5 de junho de 2009

O prazer de interagir

















photo by @bdramali

Você realmente acha que hoje sua comunicação depende totalmente da internet? 

Não, sua comunicação depende totalmente da sua vontade de interagir. 

Twitter no papel, que passou de mão em mão pela platéia do #smbr, evento Social Media Brasil, agora à tarde em SP, em função do mal funcionamento do wi-fi no local. 

(O que isso tem a ver com poesia? Poesia é inspiração, criação, expressão.

Participar de mini-momentos colaborativos também : )  


segunda-feira, 25 de maio de 2009

Auto-cura














Disease.
Dis-ease.
Diz easy,
e vai...

........

Disease.
Dis-ease.
Say easy,
and go...

(my free translation)


segunda-feira, 4 de maio de 2009

Poesia hasta infectar
















photo by my webcam


La vida
es más fuerte
que los dolores

Mientras las hojas
acojan sus flores



Porcos que voam. Gripe suína. Surto e preconceito. Ao invés de fazer eco ao medo, podemos espalhar carinho. Alimentar o pânico é que é uma porcaria. E o antídoto, a poesia.

Estenda também a sua mão com uma mensagem, aqui: Pandemia de la Ternura


terça-feira, 14 de abril de 2009

Let it go












photo by glow images


Tempos difíceis.
Eu enfrento
a minha última fronteira.

O algodão,
a acetona,
e as dez unhas vermelhas.

......................

Hard times.
I face my ultimate edge.

The cotton,
the acetone
and my ten nails in red.

(my free translation)

quinta-feira, 2 de abril de 2009

Deja vu












(detalhe) photo by Claudio Ramos


Minha saudade é assim
te sinto todo de novo
em cada pedaço de mim


domingo, 15 de março de 2009

Feliz poesia, todo dia


















Todo dia é dia de poesia.  Mas é bom ter um dia  marcado no calendário, para garantir que nos lembremos, ao
menos um dia, de algo que deveria ser parte do nosso dia-a-dia.

O dia 14 de março foi escolhido para ser o Dia Nacional da Poesia, em homenagem ao aniversário do poeta Castro Alves.  E no próximo fim de semana, dia 21 de março, é o Dia Internacional da Poesia, instituído pelo Unesco no ano 2000.

Mas descobri que essas datas não são comemoradas oficialmente na cidade de São Paulo (não me perguntem o porquê, ainda estou tentando descobrir...) 

Então resolvi convocar alguns amigos poetas, procurar um chão e um teto acolhedor, e realizar um sarau de última hora - porém a tempo de comemorar a data em prosa e verso.

Será hoje, domingo 15 de março, as 18h. Vejam no post abaixo.

Quem puder comparecer, será ótimo.  Quem não puder, só quero uma compensação:  aproveitem o próximo fim de semana e façam algo bem poético.  

Isso.  Pode ser isso.  E pode ser isso também.  Façam seja lá o que vocês acreditem que seja poesia.  Assistam o pôr do sol.  Rolem no chão com as crianças.  Ou com os cachorros.  Ouçam rock and roll no volume máximo. Andando de carro. 

E quando terminarem, se acostumem com a poesia por perto. E depois não deixem que ela - nunca mais - vá embora das suas vidas.  Combinado?  Vou cobrar... : )

Feliz poesia, todo dia.

Um beijo,
Fabi



domingo, 8 de março de 2009

23 pares de cromossomos, mas um deles tinha que ser diferente...







photo by John Lund

Não, isso não é o preâmbulo para outro rosário a ser desfiado diante das humanas hoje, nesse dia decretado para nos lembrar que seria preciso um dia para sermos lembradas...

Nada disso poderia ser mais equivocado. Afinal, um dos pares de cromossomos teve que se diferenciar diante da vontade de grandeza do homo sapiens que, muito complexo, não podia mais ficar brincando de meiose e mitose para garantir a sobrevivência da espécie. Além disso, nós existimos de fato e na lembrança, todos os dias: impossível não notar a presença da mulher ou do feminino no mundo.

Desculpem meninas, e meninos, mas todo dia eu procuro fazer poesia: hoje eu só quero fazer justiça.  Muita coisa aconteceu na história da humanidade que me faz entender porque a mulher – mesmo sendo em maior número que o homem (outra necessidade biológica) - virou politicamente uma minoria com direito a ganhar uma bolota no calendário. Bolota que, aliás, me lembra tiro ao alvo.  E aí me lembro porque – poesias e rosas a parte – eu não me sinto muito a vontade com o Dia Internacional da Mulher. 

Nessa data,  no dia 8 de março de 1857, em Nova York, trabalhadores de uma fábrica, mais exatamente 129 mulheres trabalhadoras, fizeram uma greve para exigir a redução da carga horária de seu trabalho, que era então de 12 horas por dia.  Era o tempo de um capitalismo recém-nascido, infantil - e de empregadores idem, que não satisfeitos em tirar da aristocracia seu poder, levaram junto sua vilania abençoada por Deus.  E nesse tempo, o ato de empregados exigindo direitos era algo inaceitável, que devia ser severamente punido com, por exemplo, a polícia perseguindo as 129 mulheres, que recuaram para dentro da fábrica, e seus empregadores botando fogo na fábrica com todas elas dentro.

Hoje, no mundo inteiro, é oficialmente comemorado (?) o Dia da Mulher, nos lembrando dessa data triste e de outra tristeza: nos relembra a morte criminosa de mulheres lutando por direitos justos para qualquer sexo, e, principalmente, no avisa da intolerância insistente do ser humano, de todos os sexos.  Na intenção de honrar a memória destas heroínas, pessoas corajosas que lutavam contra a injustiça, essa data acaba por ressaltar nossa capacidade de criar datas comemorativas para compensar a pequenice histórica de nossas almas, que, pior, é tão discutida e aceita seriamente como "natural".  Natural é que todos possam ser igualmente felizes, e igualmente respeitados pela sua condição básica.  De seres humanos?  Não, de seres vivos.  É a vida que nos faz dignos de respeito e amor.

Nesse mundo que persigo, não faz sentido que se comemore o dia de um tipo de alguém, pois seria tão nonsense como comemorar o dia de todos.  Nesse mundo que eu quero viver, se as pessoas abrem a porta para mim, ou seguram minha mão para eu sair do carro, é porque é bom ser gentil com o outro, e não simplesmente porque eu tenho um par de cromossomos diferentes.  O mundo no qual eu acredito é um mundo onde homens também recebem flores, pois eles também merecem ser amados, e seus feitos lembrados, e seus sacrifícios engrandecidos.  O mundo que quero ajudar a construir é uma sociedade onde mulheres também sabem ser perfeitas cavalheiras. Um mundo onde não existam pedestais é um lugar onde as pessoas podem andar sobre o mesmo chão, compartilhar a mesma vida e valores, e melhor: onde não vão cair de lugar nenhum. 

Afinal, nesse mundo nossas almas seriam tão maiores que calendários e intolerâncias, do que podes e não podes, que não haveria lugar para tanta gente num único pedestal: o planeta inteiro já estaria literalmente mais elevado. E no dia que o mundo for assim nós seremos tão mais livres - mulheres, homens e seres do sexo que bem quiserem – que esqueceremos de criar uma data comemorativa para fato tão feliz.  

Quando esse dia chegar, nossa folhinha estará muito ocupada com as lembranças dos dias que já vivemos, e nós, completamente entretidos com cada sonho que queremos realizar em cada um dos dias que ainda nos resta em nossos calendários...

Blog Action Day 2009

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