terça-feira, 23 de junho de 2009

A poltrona ao lado


















photo by Fabiana Motroni, show do Lô Borges, novembro de 2008

Em nossa vida, em muitos momentos dela, o outro é um ser inventado. Quando ele não é o que pensamos, quando não faz o que esperamos, ele simplesmente não é. Não está lá.

Invisível como a repetição de nossas expectativas, o outro é apenas uma falta. Uma falta de nós mesmos. Mas então aceitamos a solidão como dimensão real do que somos, e nos enxergamos, e a solidão se esvai, por não haver mais razão de existir. E a falta não faz mais falta.

E então a falta é a fala, é a palavra, é o fato, é a flor, e estamos livres para enxergar que existe alguém na poltrona ao lado. O outro. Um outro que nos enxerga. Um outro que nos olha na nossa poltrona e que não quer ver o veludo vermelho, por mais veludo e por mais vermelho que seja, porque está muito mais interessado em ver a gente.

O outro que entende a amplitude de companhia. Que entende a diversidade do amor. E que sabe que a poltrona estará sempre vazia enquanto não quisermos que alguém sente ali, de verdade. Alguém de verdade. Um outro da gente.

Não é o amor a falha. A falha somos nós e o que inventamos sobre o amor. E ele nos olha docemente, e sorri tristemente de nossas dores, sem muito poder fazer, o amor. A não ser esperar que não esperemos nada mais dele. A não ser esperar que esperemos por ele. A não ser esperar que o reconheçamos quando ele chegue, e que o aceitemos como ele é.


10 leitores extasiados...:

Danielle Dantas Arraes disse...

Lindo... Delicado & verdadeiro, doce & forte.

Henrique Hemidio disse...

"Mesmo o amor que não compensa é melhor que a solidão."


Vinícius de Moraes

Tucha disse...

Gostei demais do seu texto... me lembro um poema de Drummond chamado Ausência.

Por muito tempo achei que a ausência é falta.
E lastimava, ignorante, a falta.
Hoje não a lastimo.
Não há falta na ausência.
A ausência é um estar em mim.
E sinto-a, branca, tão pegada, aconchegada nos meus braços,
que rio e danço e invento exclamações alegres,
porque a ausência, essa ausência assimilada,
ninguém a rouba mais de mim.

Laurene disse...

Belo blog e excelento título: prazer do texto, do Barthes!

Drix Brites disse...

Estou aos poucos conhecendo seus escritos, te descobri seguidora do meu blog e agora me pego aqui seguidora do seu.. temos um amigo em comum, Beto Maggi, e parece que o prazer da linguagem escrita também...
um prazer tê-la como leitora, seja sempre benvinda. E parabéns pelo seu blog, uma graça, em todos os detalhes. Conteúdo e forma. Arte. Me encantou.

Carla Vergara disse...

Fabi, este teu texto está fantástico. Traduz perfeitamente um sentimento bastante comum no mundo contemporâneo. Adorei!

Daniel Simonian disse...

Parabéns!
Voltarei aqui.

Igoarias disse...

Opa! Estive um pouco ausente, mas agora estou de volta, vi que seu blog tem melhorado muito, cada texto um melhor que o outro, abraços. Volto logo...

Anônimo disse...

oláaa fabiana. belo espaço. abraços. desculpa a invasão...

leandro cardoso.

Unknown disse...

Abissal,envolvente,flamejante,mui lindo poeta Fabiana!

Viva A Vida!

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